17 de junho de 2010

Caminho do Silêncio

Fui a uma palestra pela venerável alma Dadi Gulzar cujo tema era a "Dimensão do Silêncio". Dadi Gulzar é uma praticante de Raja Yoga há 74 anos e partilhou connosco a sua imensa sabedoria. Raja Yoga é uma práctica ancestral de meditação que leva ao silêncio interior.


Mas que significa isto afinal e quais os benefícios de tal prática?

Duas das palavras mais usadas por cada um de nós são “eu” e “meu”: “meu” carro, “meu” livro, “meu” computador… todos estes “meus” e “minhas” que diariamente usamos na nossa linguagem, com a perfeita noção de propriedade sobre os objectos desses pronomes, fazem-nos deixar para trás sem questionar a percepção de quem é o “eu” que pretende, afinal, possuir tantos “meus”.


Somos nós apenas o que possuímos? Ou seremos muito mais do que isso?


É fácil e comum confundir “Ego” com “Eu”. Confusão que me parece ser provocada pela dificuldade de nos distanciarmos da identificação pelo que possuímos, para nos centrarmos em quem somos.


O “Ego” é o descodificador com que nascemos para esta experiência na dualidade da matéria, é a mente, o nosso lado racional. Imprescindível obviamente, para todas as funções vitais do corpo físico e para podermos comunicar, aprender, pensar... O Ego contém o Conhecimento.


O “Eu” é a nossa Alma, quem somos de facto, a Essência que contém toda a nossa verdadeira Sabedoria.


Quando damos o primeiro grito no acto do nascimento, o “Ego” começa a ser “formatado” para a experiência na matéria e o “Eu” é fechado na gaveta do esquecimento. Somos treinados para viver em sociedade, para adquirir conhecimento e para valorizar. Já trazemos uma bagagem de características que influenciam a nossa personalidade (o tal “Ego”). Esta bagagem é constituída pelas influências energéticas dos elementos Água (emoções e sentimentos); Terra (valores e estrutura material); Ar (ideias e comunicação) e Fogo (acção).


A formatação do Ego constitui grande parte da nossa existência na Terra, somos treinados para ter, controlar, triunfar, dominar, evitar e calar a dor e o sofrimento, negar a Igualdade e a Unidade; a agir apenas depois de “pensar”, de racionalizar pela lógica material e nunca pelo "Sentir".


A nossa aprendizagem de Almas necessita deste treino, de conhecer o “bom” pela comparação com o “mau”, pois só pela experiência da dualidade conseguimos entender os conceitos opostos.


Eis que um dia chega, finalmente, o momento de nos ocuparmos nesta vida da verdadeira missão que a ela nos trouxe. Para isso precisamos de acordar o “Eu” fechado na gaveta do esquecimento. Aqui começam as verdadeiras dificuldades, surgem os primeiros questionamentos, os grandes "problemas" e, para os mais resistentes, as perdas.


O “Eu” é a nossa alma e o detentor de toda a Sabedoria, ficou guardado e esquecido no mais fundo de cada um de nós e só pode ser acordado pelo “silêncio”, isto é, pela Meditação.


O barulho da mente pensante, treinada e habituada a dominar-nos em todos os momentos, é o grande estorvo para o despertar do “Eu”. Ao Ego desagrada perder o controlo, deixar de dominar, entrar em terreno desconhecido. Meditar com regularidade é um treino essencial que leva ao despertar da nossa verdadeira Essência, ao encontro com o nosso Eu Interior.


Os poucos minutos de Meditação que nos foram sugeridos na palestra de hoje, constituiram uma experiência muito interessante. Bastou centrar a atenção no meio da testa e olhar em frente no vazio, a mente logo se manifestou tentando ver e ouvir primeiro, depois "sugerir" imagens, até se pacificar finalmente, perante a falta de atenção que recebeu da minha parte. É possível e muito relaxante meditar mantendo o silêncio da mente, basta afinal não a ouvir e ela cala-se, como qualquer importuno que com certeza todos já tiveram de afastar pelo silêncio.


Em poucos minutos de meditação, a Paz instala-se dentro de nós e, com ela, chega a sensação de plenitude e bem-estar que são características do estado de Felicidade que é o encontro com o nosso verdadeiro Eu, a chegada enfim a casa.


Paz e Harmonia para todos