4 de dezembro de 2010

Escrever

Estava sentado à mesa do café sozinho, ia tomando notas no meu fiel companheiro, o bloco de apontamentos, de algumas ideias que me iam chegando. Quem sabe alguma poderia servir para o próximo post… ou não. De qualquer das formas, como tenho fraca memória, gosto de ir apontando episódios que me rasguem a mente porque se vieram algo devem ter de importante para mim:
De repente uma ideia luminosa, um tema bastante interessante ou se calhar um simples sobressalto do meu próprio Ego, atraiu toda a minha atenção, fazendo-me esquecer de todo onde estava.
Foi aí que chegaste, primeiro a medo, depois cada vez mais interessado por aquilo que eu escrevia. Apercebi-me da tua presença e sorri-te, levantei a cabeça e olhei à volta, procurava a pessoa responsável por ti, esperançado que te chamassem de volta, é falta de educação ver o que os outros estão a fazer. Vi os teus adultos mas sorriram e deixaram-te ficar.
Fiquei bastante chateado, estava a perder o fio ao meu raciocínio, à minha ideia luminosa.
“O que estás a fazer”, perguntaste curioso.
Pensei: vou responder rápido, que ele vai logo embora e regresso ao que estava a fazer.
“Estou a escrever umas coisas para não me esquecer”
Fixaste-me nos olhos ainda mais espantado
“ Porquê?
 - Porquê o quê?”, respondi meio torto.
 Abriste os olhos ainda maiores
”porque é que escreves para não te esqueceres? Quando é importante eu não me esqueço..”
Um zero para ti, tens toda a razão afinal se é importante porque o iria esquecer ou mesmo perder a linha de raciocínio?
“E fala do quê o que escreves? “
Achei um abuso, levantei novamente a cabeça, mas os teus adultos nem ligavam…Não queria ser rude e mandar-te dar uma volta mas também não via bem a lógica de falar contigo do que quer que fosse.
“ São coisas de adultos, pensamentos estás a ver?”
 -“Não” respondeste simplesmente:
” isso é o quê? Coisas feias?
-  Não! - Respondi sorrindo - não, que ideia… são coisas que falam de sentimentos, coisas de que os adultos gostam de falar.”
 Deixaste passar alguns segundos, parecia que pensavas na minha resposta, mas era a tua resposta que preparavas:
“Então escreves para não te esqueceres o que é os sentimentos?” Bem não havia volta a dar tinha de explicar, não ias mesmo embora por isso, se explicasse o que estava a escrever talvez não percebesses e ao cansares-te do que dizia, te fosses embora.
“Sabes às vezes os adultos gostam de escrever sobre esses assuntos de sentimentos e coisas assim.
 -Mas tu dissestes que era para não te esqueceres. E continuaste mas sentimentos não é aquilo de eu gostar de alguém?
- Ora é isso mesmo, sentimentos também é isso.
- Então para te lembrares tens de escrever?  Eu como gosto do meu avô vou lá e dou-lhe um beijo e digo lhe que gosto dele. Sabes. não me esqueço... tu precisas de escrever para não te esqueceres?”
O sorriso que acompanhava estas palavras deixou me tão pequeno face a tanta grandeza, que não me consegui impedir de te acariciar a face.
Sorriste mais uma vez e, como vieras foste, em direcção aos teus adultos. Deste um abraço ao senhor e, de lado, olhaste para mim como para apoiares as tuas palavras.
Percebi que de facto passamos tanto tempo a tentar explicar o que são sentimentos e tão pouco a vivê-los. Passamos tanto tempo a perceber porquê e tão pouco a aplicar como….
Um Abraço Luminoso para todos